O poder do outono e das flores

A neve e as tempestades matam as flores, mas nada podem contra as sementes.
As flores desabrocham para continuar a viver, pois reter é perecer.
Khalil Gibran

Estação outono – nem calor nem frio –, um tempo de tranquilidade onde parece que Deus quer nos demonstrar que tudo se renova. Tem esperança e colorido na beleza das flores, o encanto das borboletas que pousam aqui e ali e à noite o brilho das estrelas e a imensidão do infinito, envolvendo o verdadeiro império dos nossos sentidos – nosso espírito, a família, o amor, a fé, os amigos de agora e aqueles que se foram deixando saudades e a certeza do reencontro.
Meu sonho era morar num sítio, ter um lago e um ribeirão de água corrente onde pudesse nadar e pescar à vontade e ter pomar, horta e jardim em torno da casa. Na infância, eu e alguns amigos, como João Cláudio – o Rabaco –íamos nadar na “pontinha do pipeiro”. Algumas vezes vínhamos também no rio Capivari nadar, debaixo do pontilhão. Incrível (estou com 69 anos) e transcorridos mais de 50 anos ainda sonho com aquele lugar.
Meu irmão mais velho (somos em onze – três já retornaram à vida espiritual), de nome Francisco, que vai completar 85 anos, começou a gostar de orquídeas quando trabalhava como químico na Usina Santa Cruz, junto com o Carlos Alberto Annicchino, que também retornou à pátria espiritual nesse mês de abril, e as primeiras variedades ele adquiriu do engenheiro agrônomo Marcos Schincariol. E não parou mais, hoje tem mais de 2,5 mil espécies, de diversos países, e algumas raridades da Colômbia e dos Estados Unidos, bem como a mais famosa brasileira, a “orquídea feiticeira”. (1)
Minha sogra, dona Mariquinha (Braghero), sempre gostou de flores e cultivava rosas, onze-horas, violetas, margaridas e flores-de-maio; algumas vezes eu levava esses vasos de colorido deslumbrante para enfeitar a editora.
Confesso que não tenho habilidade para cultivá-las, mas como uma minoria também tenho uma relação de paz e amor com as plantas que vai além das frases que uso nas agendas. De tempo em tempo minha esposa, Izabel, diz que estou com espírito de jardineiro, porque cuido um pouco delas ou então compro novas mudas para plantio, especialmente em frente à sede do Centro Espírita Mensagem de Esperança.
Hoje, o velório não tem nada tétrico, desesperador para mim; sinto-me bem quando compareço para homenagear com pensamentos e orações os amigos e parentes, e sinto as flores como representação de vida, de apreço ao belo e à consciência dos ciclos: nascer, crescer, florescer, murchar e renascer.
Elizabeth Kübler-Ross foi uma psiquiatra suíça (1926/2004) que experienciou passar horas, como médica, conversando e escutando pacientes gravemente enfermos, sendo despertada para o trabalho pelo qual viria a se notabilizar, anos mais tarde, e que afirmou sabiamente: “Algumas flores desabrocham apenas por alguns dias. Todos as admiram e amam por serem um sinal de primavera e de esperança. Depois, essas flores morrem. Mas já fizeram o que tinham a fazer…”.
Por este motivo, nós que estamos aqui, aproveitemos a indicação de outro sábio, William Shakespeare: “Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores”.