Memória da animação Bíblica da Igreja Católica no Brasil

“…o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam: falamos da Palavra, que é a Vida” (1Jo 1,1).

O Movimento Bíblico na Igreja Católica contemporânea teve seu ápice no século XX, quando bispos e papas dirigiram a atenção para as novas abordagens e perspectivas do pensamento cristão moderno lançados sobre a Bíblia, o que despertou a animação bíblica da pastoral da Igreja.
Iluminados por esses movimentos bíblicos no mundo cristão, um marco histórico para a Igreja do Brasil, foi a realização no ano de 1900 do primeiro Congresso Católico Brasileiro, que lançou uma nova versão da Bíblia, com larga difusão entre os fiéis.
Em 1902, o Papa Leão XIII criou a Pontifícia Comissão Bíblica; em 1909, O Papa Pio X, criou o Instituto Bíblico. Desses eventos, foram de grande importância a encíclica Divino Afflante Spiritu, em 1943 do Papa Pio XII, que encorajou e estimulou novas leituras e abordagens das Escrituras.
Essas luzes fizeram florescer no mundo e no Brasil novos apostolados bíblicos que fundamentaram e iluminaram o Concílio Ecumênico Vaticano II.
Nesta esteira na Igreja do Brasil, criou-se o Plano de Emergência (1960-64) e o Plano de Pastoral de Conjunto (1966-1970).
Este último buscou valorizar a pregação, procurou incarnar a Palavra de Deus na vida concreta da comunidade, levando-os a uma conversão e aprofundamento cristão, promovendo e incentivando o Movimento Bíblico.
É inegável que para a animação bíblica, a Constituição Dogmática Dei Verbum, foi o grande avanço para a caminhada bíblica, tanto no âmbito do estudo científico exegético, como no uso pastoral, catequético, litúrgico, bem como, da presença das Sagradas Escrituras na mão e no coração do Povo de Deus.
Para Maria Aparecida Barboza, mestre em Bíblia, a partir do Vaticano II “a Igreja, povo de Deus, foi convidada a devolver a Bíblia aos fiéis, favorecendo e facilitando o estudo, as traduções e o diálogo ecumênico.
A Bíblia passou a ser vista como o livro que une todos os povos, etnias e crenças numa única linguagem: a da Palavra que é amor, fraternidade e solidariedade”.
O Concílio Vaticano II iluminou por sua vez as conferências da América Latina e do Caribe.
Embora a primeira aconteceu antes mesmo do Concílio, no Rio de Janeiro em 1955, que já naquela época destacou a importância da Bíblia na formação e a intensificação dos movimentos bíblicos; em Medellín (1968), destaca a Bíblia como força renovadora da ação evangelizadora; em Puebla (1979), a Bíblia aparece na ótica dos pobres, destacada como fonte principal da catequese e a leitura bíblica contextualizada; em Santo Domingo (1992), acentua a Bíblia como semente do Verbo espalhadas nas culturas; na última conferência, em Aparecida (2007), destaca a Bíblia no âmbito do anúncio do Querigma e do processo formativo do discípulo missionário, compreendendo que “a leitura orante favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo (DAp 249).
Esse terreno favoreceu a Igreja Católica do Brasil a dar grandes passos ruma à animação Bíblica da vida e da pastoral que temos hoje, desencadeou-se uma vasta difusão da Bíblia entre os fiéis, criação das semanas bíblicas nacionais, dos círculos bíblicos, como um novo jeito dinâmico de evangelizar; domingo ou mês da Bíblia criado em 1971 pela arquidiocese de Belo Horizonte, buscando inserir o livro sagrado na vida da família; a Campanha da Fraternidade, cujo temas são preparados a luz da Bíblia; mudança de dimensão catequética para a dimensão bíblico-catequética; como frutos do Vaticano II, movimentos partindo da Bíblia para o diálogo ecumênico, deixando de lado clima de enfrentamento, de rivalidade, buscando caminhos de comunhão e unidade; por fim, destacamos a Lectio Divina ou leitura orante da Bíblia, que teve como grande expoente e incentivador o teólogo e biblista Carlos Mesters, ação que contribuiu no Brasil com a familiaridade com a Palavra de Deus, diálogo e comunhão com as várias formas de culturas do nosso vasto país.
A luz desse caminho e memória, desejamos que a Bíblia seja assumida pelas comunidades e famílias, como fonte e almas do anúncio querigmático, da vida e da missão pastoral do hoje da Igreja.